Fé, esperança e amor... do coração de um homem de Deus.
“Fé, esperança e amor.”
Os degraus da escola nos fundo do monastério,
nos arredores de Amã, Jordânia, pareceram longos e embaçados, enquanto eu os
descia devagar. Ia na frente, tentando esconder de meus colegas as lágrimas que
insistiam em rolar. A semana já tinha sido forte. Visita, ao campo de refugiados
de Zátari na fronteira com a Síria, hoje com mais de 84 mil pessoas, na maioria
muçulmana, que esperam a sorte e a política mudarem. Vivem de forma provisória
no meio do deserto, sem nenhuma perspectiva a curto ou longo prazo. Sobrevivem
do que a ONU e o sobrecarregado governo Hashemita têm a oferecer. Visitamos
ainda, famílias de refugiados urbanos que ocupam todo espaço disponível em Amã,
que hoje, segundo dados oficiais, representam mais de 20% da população do
pequeno reino. Estivemos também, nos bastidores do Alto Comissariado das Nações
Unidas para Refugiados – ACNUR, aprendendo como é processado o cadastramento e
sustento das mais de 900 mil pessoas que por ali passaram, nos últimos quatro
anos. Mas, nada foi tão emocionante como esta tarde. Descendo a escadaria,
deixava para trás cerca de 350 crianças e juvenis, filhos de refugiados
cristãos, alguns deles desacompanhados e órfãos da guerra sangrenta, mas que
encontraram refúgio no coração, alargado, do Padre Carlos, um homem singular e
cheio de amor.
No refúgio, tudo é simples. Os professores, médicos, dentistas
e psicólogos, são todos voluntários. Alguns estrangeiros, outros são locais.
Existem ainda, aqueles que são também refugiados e estão ajudando a instituição
como podem. Quando entramos em uma das salas, os cerca de 30 adolescentes
presentes, ficaram de pé e sem hesitar cantaram o Pai Nosso em sua língua
materna do norte do Iraque, o Aramaico. Seus olhinhos fechados e mãos estendidas
a Deus, fizeram do momento um pedacinho do céu, junto das portas do
inferno.
Todas estas crianças, são de famílias cristãs. Muitas das que
visitamos durante a semana são muçulmanas, porém todas de igual modo, têm
traumas profundos. Em uma das casas, enquanto o pai narrava a saga de expulsão e
fuga de Nínive no Iraque, sua menina de sete anos começa chorar compulsivamente
dizendo: tudo
ficou lá. Eu não tenho mais nada e não tenho mais nenhum amigo ou família,
soluçava a pequenina. Assim como a viúva que teve o marido morto em sua frente e
na presença de netos e nora, cuja a única opção foi fugir.
Sem dúvida, nesta
semana minha vida mudou profundamente. Podemos ter miséria e privações em nossa
terra, mas nada se compara às que vimos e ouvimos aqui. A ausência de
perspectiva e de possibilidade, vai exterminando os sonhos dos mais velhos e
aniquilando o potencial dos pequenos. Em Zátari, por exemplo, de acordo com o
coordenador da UNICEF, das 30 mil crianças, só a metade vai à escola, as outras,
muitas delas no local já há quatro anos, não fazem nada, além de perambular
pelas ruas empoeiradas do campo.
Mas, foi descendo a escada que compreendi em
meu espírito o versículo de 1 Coríntios 13:13 - Agora, pois, permanecem a fé, a
esperança e o amor, destes três; porém o maior é o amor. Tem horas na vida que
tudo aquilo que parecia ter valor e dar segurança, acaba. Estive com pessoas que
um dia eram ricas e bem de vida, e hoje, não possuem mais nada. Os muçulmanos,
apesar de conformados com o destino de Alá, me pareceram sem muita expectativa,
porém os que são de Cristo, os olhos ainda brilham, expressando alegria e até
mesmo gratidão a Deus, como o fêz Assad: acima de tudo, louvo a Deus que salvou
a minha vida e de minha família enquanto muitos morreram ao meu redor,
concluiu.
A fé, em meio a privação, se torna a força que sustenta o espírito
humano, a esperança é o que leva para frente, mesmo que seja um passo de cada
vez, e o amor, é o perfume de Deus, que a gente sente em lugares como estes.
Este amor quando verdadeiro, é tão forte e grande que faz com que muitos de
nossos valores se apequenem.
Quando perguntei ao Padre Carlos como a Igreja
brasileira poderia ajudar? Sem hesitar respondeu: Só amar. Eles precisam de
amor! Saí dali naquele dia,
redefinindo em meu coração o que é amor. Lembrei de 1 Coríntios 16:14 - Todos
vossos atos sejam feitos com amor. Sim estes lugares carecem de atitudes
urgentes: oferta financeira, saúde, vistos para refúgio e tudo mais que podemos
fazer daqui para frente, mas tem que ser regado pelo verdadeiro
amor.Na saída em meio a algazarra da criançada, ainda tive
olhos para ver em um canto, uma menina portadora de necessidades especiais. Me
aproximei e toquei com carinho seu rosto, quando ela, então, estampou um sorriso
de quem só espera por isso.
(Nossa visita foi de caráter oficial representando a
Frente Parlamentar para Refugiados e Ajuda Humanitária do Congresso Nacional, em
parceria com o Alto Comissariado das Nações Unidas Para Refugiados e com o
respaldo da ANAJURE – Associação Nacional de Juristas
Evangélicos.)
No final, Padre Carlos
declarou: aqui dentro, não temos imagens de santos, porque estes são os meu
santos"
(Texto de @asaphborba– fonte: Twitter)
Amém! Amém! Amém!
Pela cruz de Cristo, Maristela Guimarães
Comentários